terça-feira, 24 de abril de 2012

MARACÁ


Na busca do som que vem das matas para contar as histórias dos seres que vivem nelas. 

em 6 passos - feito em casa
(me senti índia novamente)
materiais doados pela natureza encerrada no quarteirão denominado "Parque da Água Branca"







Por Recy Freire
("vida indígena na  madrugada")

terça-feira, 17 de abril de 2012

Os sons e os espíritos.


Os encontros agora, longe dos parque e dos animais que paravam pra ouvir as histórias, acontecem num outro espaço bastante acolhedor, a biblioteca Monteiro Lobato. Lá tem até um pedaço da costela de Monteiro Lobato! Seus sapatos, sua cadeira favorita, sobretudos, escrivaninhas, canetas, etc. Lá o espaço é permeado pela sensibilidade dos que por lá passam e dos que por lá já passaram e claro dos que ainda estão por vir. Isso me dá a sensação de estar sempre observada. A porta se abre sozinha - Pode entrar, povoe esse espaço com a gente. Entra alguém, mas de corpo que eu não tenho ideia de como seja.

Acho que Iamululu tem muita responsabilidade nisso tudo. Que som evoca aquele espírito? Ora é o batuque, ora a voz, ora a gaita, ora o apito, ora a flauta, ora o roi-roi, ora o silêncio por ainda não ter conseguido evocar aquele outro espírito. É necessário sutileza e sinceridade para evocá-los com os sons...



Ana Carolina.


domingo, 15 de abril de 2012

O sol mandala e iamulumulu

Os ensaios estão acontecendo neste momento na biblioteca Monteiro Lobato. Trazer todos os atravessamentos dos parques, os cheiros, os sonhos, as cores, as matas, os bichos para dentro da sala de ensaio está sendo inspirador à imaginação. Na sexta-feira o trabalho de aquecimento resultou numa experiência de construção de cena do mito xingu da origem dos rios, Iamulumulu. Segundo o mito os irmãos Sol e Lua se apaixonaram pelas esposas do espírito Savuru, para conseguirem ficar com as esposas pediram as ariranhas que matassem Savuru. O Sol ficou com a esposa mais velha e o Lua com a mais nova. Certo dia, eles resolveram ir buscar água nas aldeias de Kanutsipém, um outro espírito. O caminho era longo e os casais se cansaram pedindo que os espíritos os ajudassem a chegar lá. Iamulumulu lhe curou o cansaço, Ierepê plantou o ciúme das esposas no corações dos dois e Uiaó lhes deu o sono. No outro dia, já descansados chegaram as terras de Kanutsipém, e foram pedindo água ao espírito que lhes ofereceu uma água suja. Desconfiado, o Lua se transformou num beija-flor e sobrevoou as terras descobrindo que lá existiam uma água muito limpa escondida em vários potes. Os casais voltaram para suas terras revoltados e contaram a todos o que tinha acontecido, evocaram outros espíritos para que lhes ajudassem na luta com Kanutsipém. Mearatsim foi o primeiro a chegar que com seu canto estridente foi logo expulsando o dono das terras, e em seguida chegaram os outros que começaram a quebrar os potes e a água foi se juntando numa grande lagoa. Os espíritos puxaram braços de água para todos os lados formando vários rios, mas o Sol não ficou satisfeito porque nem todos corriam para o Morená, a região sagrada dos espíritos. Formou-se uma grande confusão, e no meio dela o irmão Lua desapareceu. O sol ficou desesperado, seu irmão havia sido engolido por um peixe. O acará lhe contou que foi o Jacunaum que havia engolido seu irmão. O Sol pediu ajuda a taperá (andorinha do campo) que lhes ofereceu um anzol escondido num fumo para que pescassem o jacunaum. E assim, o Sol e o acará seguiram pelos rios atrás do jacunaum. Finalmente, o Sol conseguiu pescar o peixe abrindo-lhe a barriga e descobrindo que lá estava seu irmão, só que agora só os ossos. O Sol pegou as folhas perfumadas do enemeóp e cobriu os ossos de seu irmão, e o Lua se fez carne, mas faltava-lhe a vida. Foi quando ele pegou um mosquito e colocou na narina do Lua, que com um espirro soprou-se a vida novamente. E assim, as águas se espalharam formando os rios, e o Sol ficou conhecido como o primeiro pajé e começou na Terra a prática da pajelança.
O aquecimento deste dia gerou a criação de uma mandala feita com instrumento, onde no centro a narrativa se faz carne-palavra. Dentro do círculo um trabalho de irradiação com movimento e respiração foi realizado para fora da roda. Um narrador sol irradiando o mito com o corpo. Os instrumentos como espíritos evocados pela narrativa. Ao redor os outros contadores personificam os espíritos através dos sons. Assim, descobrimos o ínico destas jornadas narrativas, saudando o sol e sua pajelança.

João Júnior.









Mito extraído do livro Lendas e Mitos dos índios brasileiros,
de Walde-Mar de Andrade e Silva.




sábado, 7 de abril de 2012

Tudo virou brincadeira e coceira


O que você deixa pra trás no caminho? O que de você fica no meio da estrada? Qual a marca deixada pelos “passos dos índios guerreiros”? Hoje, eu e Carol não conseguimos deixar pra trás, pra bem longe do nosso ensaio no Parque da Água Branca, a ressaca dos nossos corpos cansados da rotina da cidade. E o corpo e a mente pediram pela apreciação do lugar. Escolheram uma pausa que olha em volta e na verdade não para. Um novo olhar para o já conhecido (mas ainda nos [re]conhecendo lá) e sagrado espaço de trabalho. A curiosidade para saber o que nele se abrigava gerou a descoberta. Descobrimos os rastros da vida ali: penas, cascos de árvores, sementes, frutos secos...Tudo virou brincadeira e coceira. E as marcas que a natureza deixou desapercebida agora é objeto de investigação e estudo para o nosso modo de contar suas histórias. Deixamos no lugar a marca dos nossos olhares curiosos e levamos para o resto do dia um corpo disposto a se redescobrir.











Relatos de Recy sobre o ensaio do dia 03/04/2012 no Pq. da Água Branca.